quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Escolas de Samba Sofrem com a Falta de Recursos

As duas escolas de samba mais antigas de Guarapari, Mocidade Alegre de Olaria e Juventude de Muquiçaba, padecem - como é de praxe - com a falta de recursos para a realização do carnaval da cidade. E, em se tratando de escola de samba, os recursos necessários para se fazer um bom carnaval são vários. Não se restringe a apenas recursos financeiros. É bem verdade, entretanto, que no que diz respeito a desfile na avenida, a questão monetária é a mais problemática.
Os dois representantes das escolas de Guarapari, os presidentes Tarcísio Ribeiro e Milena Lira, são quase uníssonos ao falarem dos problemas que afetam as agremiações. Através das entrevistas fica patente o sofrimento pelos quais eles passam na preocupação de levar para a Avenida Joaquim da Silva Lima um bom espetáculo. A intenção de ambos e dos demais foliões é apenas brincar e divertir os turistas que na época do Carnaval lotam a cidade. Porém, essa diversão custa caro às escolas de samba e todos os diretores enfrentam uma verdadeira via crucis até chegar o momento tão esperado pela população: o desfile na avenida!
Atualmente as escolas de samba estão sem representação junto aos órgãos públicos. A Liga Guarapariense das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Guarapari, a LIGESBC, enfrentou graves problemas internos em 2009 e deixou de receber da Prefeitura a verba destinada ao Carnaval de 2010. No ano passado, a AMOCENTRO - Associação de Moradores do Centro de Guarapari - serviu como intermediária no repasse do dinheiro para os grupos filiados à LIGESBC (11 blocos carnavalescos e 2 escolas de samba - conforme mostra a Wikipédia, além da novata Imperatriz do Samba, que desfilará pela primeira vez em 2011, no Carnaval de Vitória).
Outro problema que atrapalha o desempenho das escolas é também a falta de sede própria. Sem o local adequado para a guarda e conservação de todo o material de carnaval, tais como chassis de carros alegóricos, instrumentos musicais, equipamentos de som, adereços e fantasias, máquinas de costura, tecidos e ferramentas diversas, as escolas improvisam os chamados "barracões" em casas alugadas ou nos terrenos de voluntários. Esse improviso onera mais ainda o caixa das agremiações.
Os chassis ficam jogados ao relento nos terrenos a céu aberto por onze meses e 26 dias durante o ano, sob sol, chuva e maresia. O resto do material acaba amontoado na casa de um e de outro folião. Não é necessário dizer que as plumas (item caríssimo de uma fantasia) são as primeiras coisas a irem para o lixo...
O apoio financeiro necessário à realização de um espetáculo carnavalesco digno do balneário mais conhecido do Espírito Santo é algo que deixa os presidentes das escolas e dos blocos com os cabelos brancos. A maior patrocinadora do Carnaval de Guarapari continua sendo a Prefeitura Municipal que, em 2010, reservou a quantia de R$ 40.000,00  para cada escola de samba, dinheiro que foi repassado às agremiações há poucos dias do Carnaval. Tal valor, no entanto, é insuficiente para cobrir todo o gasto das escolas de samba.
Nos cinco meses que antecedem o Carnaval tem início a contratação de carnavalescos, costureiros, artesãos, auxiliares e intérpretes de samba, fato que inevitavelmente gera toda uma burocracia trabalhista típica de empresas de médio porte. Os ensaios começam quase que na mesma época e, nesse mesmo tempo, surge a necessidade de se contratar também os serviços de sonorização e adquirir novos instrumentos musicais. O material necessário à confecção das fantasias e construção das alegorias é, certamente, o que mais preocupa os presidentes. Grande parte do que vai para a avenida num desfile não retorna aos barracões e o que sobra ou fica danificado, ou sem aproveitamento. O material carnavalesco à disposição nas grandes capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e até mesmo Vitória vão subindo de preço, ou vão sumindo das prateleiras, à medida que os meses vão se passando...!
E o que falar dos ensaios, tão necessários a todas as escolas de samba? Eis aí mais um problema a ser resolvido. Sem quadra ou sede própria, tanto as escolas de samba, quanto os blocos carnavalescos, enfrentam a insatisfação de vizinhos, grupos religiosos, motoristas e transeuntes, já que os ensaios acontecem muitas vezes no meio da rua, ou nas praças.
Chega finalmente o dia do desfile... E, com ele, a mais nova dor de cabeça... As escolas agora têm a tarefa de organizar todo o palco do show! O desfile não pode acontecer sem a equipe de segurança, sem a sonorização da avenida, sem o carro de som, sem iluminação, sem o serviço de limpeza e sem a organização da ordem. Tudo isso despende tempo, mão-de-obra, cabeça fresca e, sobretudo, dinheiro...
Diante de uma realidade tão confusa quanto a do Carnaval de Guarapari, é preciso ter muito samba no pé, ginga, rebolado e muito... muito jogo de cintura para que nenhuma escola vá para a Avenida Joaquim da Silva Lima e apresente como enredo o "Samba do Crioulo Doido". Literalmente...


Por: Julio Cezar Gomes Pinto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ATENÇÂO: O Blog da Mocidade não publicará comentários ofensivos, obscenos, racistas, que estimulem a violência, sejam contra a lei ou não correspondam ao assunto da reportagem. Todos os comentários serão avaliados.