quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Dinah Inaugura a Série "Velha Guarda - Tradição e Alegria"

A entrevista com a costureira Dinah Germano acabou se tornando um alegre e saudosista bate-papo em família. Aniversariando no dia 19 de fevereiro, quando completou 64 anos, a mulher que é facilmente encontrada no barracão da Mocidade Alegre de Olaria às voltas com fantasias e adereços de carnaval, abriu o coração e a porta do seu ateliê para nos contar um pouquinho da história da Mocidade. Aliás, o ateliê de Dinah, em sua própria casa, está sempre de porta aberta a amigos e clientes que a procuram devido ao capricho e zelo com que faz suas costuras.
A costureira mais antiga da Mocidade exibe um tímido sorriso e as marcas de alguém que lutou com muito esforço para criar os filhos debruçada sobre a máquina de costura do ateliê. De poucas palavras, mas de sincero olhar, Dinah lembrou os velhos tempos da escola de samba que teve como mestre de bateria seu irmão Edson Germano. Lembrou como era bom quando as criancinhas podiam desfilar sem qualquer impecilho ou perigo.
A filha de Dinah, Eliane, é quem acompanha pela avenida a segunda Porta-Bandeira da Mocidade Henara, sua neta. Muito extrovertida, Eliane falou-nos ainda que Dinah faz um trabalho voluntário na Igreja Batista há doze anos ensinando a comunidade a costurar. Entusiasmada, a filha de Dinah mostrou-nos as fotos antigas dos desfiles da Mocidade e apontou, com orgulho, para a foto do tio à frente da bateria.
Já Ediete, sempre risonha, preparava uma cocada baiana que, de acordo com suas palavras "é tradição, assim como a Escola de Samba" e foi ensinada pelo seu pai Antero Germano, que tinha um restaurante caseiro na famosa Rua das Bonecas, no centro de Guarapari.
Às voltas com os preparativos do aniversário que ia comemorar no dia seguinte, no domingo, Dinah não se deteve em nos dar a entrevista e falar-nos de vários fatos marcantes na história da Mocidade.


Blog da Mocidade: Quando começou o seu trabalho na Mocidade?
Dinah: Eu vim morar em Olaria em 1978, vindo do bairro Aeroporto, e aqui já existia um grupo de foliões ao qual eu me integrei. Era um grupo de pessoas que acabaram se tornando os fundadores, que foi o meu irmão,  Pedro (Ribeiro), Dito (Ribeiro), Dr. Roberto (Simões) e muitos outros que até já morreram, que já se foram.

Blog da Mocidade: E quando você se integrou à escola você fazia o quê?
Dinah: Sempre costurei. De forma que eu nunca desfilei.

Blog da Mocidade: Nunca?!
Dinah: Nunca. Sempre tenho vontade.
Ediete: Na escola quem já desfilou fui eu, Edite (irmã) e Edson. Dinah nunca desfilou não.

Blog da Mocidade: Não desfilou nem como Baiana?
Dinah: Nem como baiana. Mas, se eu for sair também, será como baiana. Não desfilei ainda porque não chegou a hora.

Blog da Mocidade: Fale-nos sobre o seu irmão Edson Germano.
Dinah: Ah, Edson era um apaixonado pela Escola. Ele foi um guerreiro da Mocidade Alegre de Olaria. às vezes ele saía de porta em porta chamando os meninos para tocarem na bateria porque ele era o Mestre, né? Ele se doava muito pela Mocidade porque naquela época nós fazíamos tudo por amor. Não era como hoje, que até verba da Prefeitura a Escola recebe. Naquele tempo não existia isso não. Era tudo por amor mesmo.

Blog da Mocidade: E como eram confeccionadas as fantasias sem verba?
Dinah: Era com a ajuda de um e de outro. Nós saíamos pelas ruas pedindo dinheiro através do livro de ouro; procurávamos o comércio e os hotéis que sempre ajudavam. Havia muitos voluntários também. Hoje não existe muitos voluntários. Mesmo assim, a Olaria sempre saía na avenida para brilhar. Vinha gente até de Piuma para desfilar na Olaria, como a Carminha.

Blog da Mocidade: É verdade que fizeram um enredo homenageando o Edson Germano?
Dinah: Sim, é verdade. Houve um ano em que ele fez um samba que foi pra avenida. Logo depois, ele morreu e no ano seguinte cantaram um samba em homenagem a Edson.


Blog da Mocidade: O que é a Escola de Samba Mocidade Alegre de Olaria, na sua visão?
Dinah: A Mocidade é um grupo de jovens alegres, festivos e é uma parte da história da minha vida, mesmo. Estou nela há trinta e três anos.

Blog da Mocidade: Que comparação você faz com o carnaval atual?
Dinah: Ah eu tenho saudade da época em que os integrantes eram todos voluntários... Naquela época até as criancinhas podiam tocar na bateria. Os desfiles eram mais cedo, as crianças podiam ficar até o fim do desfile. Hoje não. A demora é tanta que as crianças acabam dormindo antes da escola desfilar. Eu não sei porque eles proibiram o desfile das crianças...

Texto e imagens: Julio Cezar Gomes Pinto.


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